verso à terça


Per noi uomini
e per la nostra salvezza
discese dal cielo
e per opera dello Spirito Santo
si è incarnato nel seno della Vergine Maria
e si è fatto uomo.


in Credo, versão em italiano

Como acabar com o desemprego entre os jovens licenciosos


um neodesmalthusianismo

Uma das mais nebulosas e até nefastas consequências da austeridade desbragada é deixar os jovens com a sua lubricidade exposta aos malefícios do tempo livre. Com uma química ainda sem enquadramento religioso o jovem recém-licencioso encontra-se numa encruzilhada de tentações que ora são assumidas como um lastro inesperado das novas oportunidades, ora consumidas precipitadamente como ilusórios projectos de inovadora investigação. Deixar desamparado um jovem licencioso com excesso de argumentos é como pôr uma piton num gaiolinha de hamsters de lacinho e dar azo a que desperdicem as energias na utilização ineficaz dos instrumentos realmente úteis que têm mais à mão. Sem vislumbrar um aproveitamento para a sua licenciosidade que corresponda às expectativas criadas, o jovem licencioso acabará por tornear a clássica e profilática inibição do libido por concupiscências de substituição. Empregar dinamicamente os jovens licenciosos é pois um imperativo nacional sob pena de que se esgotem ou miscigenem em paragens onde serão forçosamente vítimas do dumping sexual. Para tal desígnio é essencial criar uma bolsa de fecundidade que lhes permita orientar e fixar as suas competências para um projecto de renovação genética radical, reconstruindo-se numa concupiscência de desenvolvimento. Tornar o jovem licencioso em jovem procriador é o movimento que a nossa demografia exige e que porá a nossa segurança social daqui a vinte anos a vomitar excedentes que nem um esófago esfregado de aladino. A prosperidade está na copularidade e há que dinamitar os malvados países da moeda forte com os bastões da impotência e da frigidez.

Prémio Lúcia-Lima da Química Teológica


De todas as tentações heréticas les plus délicieux são as da família do panteísmo. Apesar de já exploradas até à exaustão na história da imaginação e digestão religiosa mostram sempre uma luminosidade tal que dão um ânimo revitalizante a qualquer crente com um certo afã de heterodoxias ortodoxas como eu. Noutro dia, a Cristina dos ex dias felizes tirou da sua arca uma preciosidade praticamente graálica: «(...) vi-me obrigada a aceitar a existência em mim de um sentimento religioso (sim, o sentimento religioso é o mais inconfessável de todos). (...) ao procurar situar esse sentimento, e depois de muito esforço, percebi que ele não pairava no espírito como coisa abstracta mas consiste na harmonia silenciosa das substâncias químicas que compõem o meu corpo — na matéria, portanto». Ora esta espinosada de 3ª geração é uma lufada de ar fresco na apatia religiosa dos tempos que correm e leva-me a confessar também que já um par de vezes me pareceu sentir Deus a subir-me pela espinha acima que nem um foguete de Xenônio, facto e convicção que até hoje tinha reprimido, numa manifestação, reconheço, de vergonhosa infidelidade ao mandato apostólico que transporta qualquer católico. Esse equilíbrio da matéria interior, apesar da aparência de conter um certo biologismo místico, é inegavelmente um bom principio para encontrar Deus, quando mais não seja fazendo da Tabela Periódica uma espécie de private catechism quando não mesmo, nos dias mais felizes, a portable summa theologica.

as meninas da casa


Longe vão os tempos em que fatinha felgueiras e clara de sousa eram as estrelas das googladas aqui à casa. Foram destronadas por Nigella Lawson que liderou folgada e inesperadamente por um período longo, mas agora vê-se ameaçada por Soraya Santamaria. Kate, querida, dá aqui uma mãozinha ao meu prestígio, pela tua rica saúde.

O Ardor nos Tempos de Cólica

Leonel estava já reformado da Associação de Socorros Mútuos dos Vendedores de Bolo Rei de Loulé quando decidiu dar uma utilização mais criativa e colorida à sua reduzida reforma. Os tempos eram difíceis, já não se arranjavam amantes apenas à base de paleio e muito menos a debicar dom rodrigos depois de passeios à beira-mar, e havia que fazer muita ginástica com a sua parca pensão para alimentar os desejos mais ou menos íntimos de uma amante que fosse minimamente apresentável e que dignificasse um viúvo em fase de retoma hormonal. Sendo o seu primo dono dum pronto a vestir em Faro o problema da ornamentação têxtil parecia mais ou menos resolvido, mas o trinómio jantar-dançar-cama exigia um concentrado de despesas que fazia a sua pensão gemer ao fim de três sessões de troca de fluidos in-shore. Rapidamente teve de riscar as representantes de faixas etárias mais apelativas, estimulantes e exigentes, e pura e simplesmente esquecer em definitivo as deliciosas senhoras que tivessem plásticas em fase activa de project finance. Assim, enquanto a população em geral sofria de espasmos com os saldos bancários para preencher as boquinhas famintas das suas proles, Leonel ardia de desejos carnais e sentimentais por satisfazer. Face à forte discriminação de preços entre jantares e almoços Leonel teve de começar a optar por concentrar os seus contactos erofílicos nos almoços executivos, só que, face às maiores exigências de timming da sua digestão, quando se mostrava capaz de fazer uso das suas capacidades de propiciar consolo e êxtase já era quase hora dos telejornais; para além disso parecia ter a pila directamente ligada à pensão de reforma, numa causalidade confrangedora e não raras vezes a cópula foi acompanhada de visões com a sua falecida a acenar-lhe com o extracto bancário libertando cifrões por todo o seu cerebelo. Chegava a casa extenuado, cheirando a um misto de sexo e naftalina e adormecia a ouvir o troika-troika dos noticiários. Contudo, amaldiçoar a miséria da sua pensão e praguejar as sucessivas mudas de decoração com que a falecida tinha absorvido as poupanças, de forma alguma criava um clima de estabilidade nos seus recursos de sedução e, assim, Leonelão concentrava heroicamente os seus esforços em aproveitar o melhor possível as franjas já desfiadas da sua pensão e nunca por nunca deixar transparecer a terceiras que daí vinha qualquer sinal que fosse de travagem ou mera desaceleração nos seus argumentos de homem experimentado, sabedor, conselheiro e camarada fodilhão. Uma ou outra vez quase se deixou atraiçoar com desabafos do género querida achas mesmo que é preciso esse modelo de cuequinha com tantos rendilhados, querida em minha casa os edredons são dos mais fofinhos, ou mesmo querida então ele há pastelarias também tão jeitosas, mas acabou por saber virar a ansiedade que lhe acometiam as faltas de zeros nas transferências da caixa geral de aposentações no sentido de aparentarem ser meras apreciações estéticas ou até bucólicas. Com a sua pensão continuamente em stress test, Leonel, já nas mãos da previdência, colocou-se também nas da providência para poder coroar a sua ardente masculinidade em cada donzela que se perdesse nos seus braços e apêndices colaterais, como ela fosse uma espécie de complemento de reforma, um fundo de capitalização que ainda estivesse abrigado da permanente pré peritonite do estrangulado orçamento de estado. Há todo um modelo de sociedade que se joga nos pendentes dum reformado.

verso à terça (*)

How I love to laugh when the crowd laughs
While love slips through
A theatre that is full
But oh baby
When the crowd goes home
And I turn in and I realize I'm alone
I can't believe
I had to sacrifice you

parte de poema cantado por Patti Smith a Janis Joplin , relatado em Just Kids, de Patti Smith

(*) hoje à quarta

Ciência Política - Capítulo 'O pensionismo'


«Sem emprego e sem poupanças dignas de nome, Salazar não tinha condições para cuidar de si próprio; foi necessário aprovar legislação para corrigir essa situação»

in Salazar, de Filipe Ribeiro de Meneses, pág. 634


incentivos à produção

O velho Montesquieu dizia que o comércio promovia a paz, a delicadeza e a moralidade nas relações humanas. Irritantemente o comércio tem vindo a colar-se a valores da mais que duvidosa qualidade como a globalização, a intermediação, o abuso de posição, etc, resumindo em duas penadas: chulice e broche.

É mesmo pena, pois há uma dignidade intrínseca no actos de vender e comprar, ao serem uma corruptela benigna da troca, na sua essência mostram aquilo que o homem tem de melhor, melhorzinho vá: ir de encontro das necessidades dos outros. Ainda para mais, a sua existência realçará valores que, apesar de autónomos, se aproveitam dele (do comércio) para se porem no pódio da ética , como a gratidão, o desprendimento, a magnanimidade e afins.

Sendo que o comércio se veio a travestir de outras denominações menos ilustres, desde negociata a cambão, passando pelo ambíguo tráfico ou a suspeitosa especulação , estamos agora em suspenso para ver o que substituirá o 'interesse' e o 'bem comum' nos manuais de ciência politica. Estou plenamente convencido que quando Jesus expulsou os vendilhões do templo o que estava em causa não era a actividade mas sim produto de má qualidade.

Apoio ao mercado interno

Onfray, aquele do tratado de ateologia et al, no seu livro recente em que ataca de forma contundente a psicanálise ( Le crépuscule d'une idole. L'affabulation freudienne), ainda no prefácio elabora uma espécie de postulados e contrapostulados freudianos. Num destes últimos ele escreve: «A recusa do pensamento mágico não obriga de forma alguma colocar o próprio destino nas mãos do feiticeiro»

Julgo que o 'pensamento mágico' e as 'mãos do feiticeiro' são precisamente as bases (paralelas) do estado actual do pensamento. Explico-me: mais ou menos conscientes da nossa incapacidade de tocar na essência da realidade, somos forçados a criar uma realidade paralela que se preste à nossa manipulação. Daqui surgem as duas vias: valorizar a capacidade infinita de produção autónoma do nosso pensamento, ou valorizar a sua sujeição a forças ocultas que o orientam.

Serve o presente para indicar que apenas o cristianismo desfaz esta encruzilhada, ou seja: permite que a força do nosso pensamento possa agir iterativamente com não só o resto do fenómeno que é a existência humana, como com o outro fenómeno que é a transcendência. Diria, e digo, que a revelação cristã ilumina o homem duma forma que a sua contestação apenas reforça: só um alienado não descobre a natureza humana na mensagem e na experiência relatada de Jesus.

Cada um de nós é o pior cliente de si próprio e há que dar uma volta a isto.

apoio à exportação

1 rolo (300 g) de massa folhada
250 ml de creme de leite fresco
100 g de açúcar refinado
4 gemas de ovo
1 colher de chá de farinha de trigo
Raspas de limão
Açúcar com canela para polvilhar

Massa
1. Desenrolar a massa e cortá-la ao meio no sentido longitudinal.
2. Enrolar uma dessa folhas como um rocambole.
3. Por cima desse rocambole enrolar a outra massa.
4. Cortar esse rocambole de massa em fatias de menos de 1 cm (vai depender bastante do tamanho da forminha).
5. Forrar as forminhas com a massa.
6. Levar à geladeira para descansar.

Creme
1. Misturar todos os ingredientes, com exceção das raspas de limão.
2. Levar a mistura ao fogo brando até engrossar. Assim que iniciar a fervura, retire do fogo.
3. Adicionar as raspas de limão.
4. Esperar esfriar.
5. Rechear as bases de massa folhada. Colocar pouco recheio para evitar que vaze durante a cocção
6. Levar ao forno pré-aquecido (250 C à 300 C) até firmar e dourar.
7. Retirar das forminhas e no momento de servir polvilhar açúcar e canela.

O caderno

Para Samuel Bonifácio chegara o momento em que tinha decidido casar-se. Era um homem de critério, possuidor dum cepticismo de cariz peri-científico e com um processo de decisão elaborado e de concomitâncias várias. Para primeiro modelo tinha escolhido o género 'mulher bonita'. Seu pai, de natureza mais prática, e depois de conhecer a escolhida, disse-lhe o primeiro óbvio das teorias do gosto: «com muito bonitas não dura». Mas Samuel seguiu o seu desiderato. Durou 3 anos e 3 meses, não parece terem ficado marcas na sua cartografia íntima e o seu sémen também não semeou. Reflectiu, todavia, e encontrou as razões no cabaz do costume: capricho e ciúme. Seguiu assim para a segunda hipótese na calha, uma mulher de cariz mais 'companheiro', da qual a sua mãe o alertou: «quando fazem  muita companhia depois não se distinguem muito dos spaniels» Como era de esperar Samuel seguiu o que tinha traçado e 4 anos e picos depois voltou ao estado civil de consumidor. As razões desta vez eram também clássicas: não ultrapassando muito a fronteira da companhia há sempre algo que murcha. Daí que a terceira modalidade do seu plano para a vida conjugal fosse previsível: critério: sexo. Desta vez o pai ainda lhe disse: é um bom critério, mas. Samuel seguiu, fodeu o que tinha de foder, como e quando nunca foram variáveis que atrapalhassem e durou 3 anos quase completos. Da introspecção saiu um veredicto: a pila é o orgão menos exigente do corpo e não pode servir de critério. Em quarto lugar estava a hipótese 'amor'. Samuel nunca pensara ter que chegar a esse ponto e inclusivamente só conhecia o conceito vagamente de ouvir falar em livros e filmes e de raspão por uma prima afastada que era frígida  e se tinha casado com um anestesista. Depois da mãe lhe ter dito que era um critério menos válido que a capacidade para fazer uma boa cabidela, mais uma vez seguiu em frente e, depois duns esponsais bem mimosos, foi trocado, pela primeira vez, por um playboy lituano ao fim de 2 anos e meio. Estranhou que o vulgo encornanço tivesse surgido apenas com este critério, mas da sua reflexão concluiu que o tal de amor é algo com bases pouco sólidas e que não deve extravasar os limites da arte ou, numa ou outra excepção, servir apenas de bónus para usar em fase de menor liquidez de recursos. Com quinto critério apresentava-se uma terminologia vaga que indicava ' 'admiração e respeito mútuo'. Como a definição de critérios já tinha muitos anos Samuel chegou a pensar que se teria tratado duma espécie de conceito residual, o equivalente ao descargo de consciência usado na psicologia de supermercado. Há que tentar, foi o que lhe disseram alguns amigos pois os pais já tinham mais que fazer. Depois de 3 anos promissores deu-se o fenómeno da dissolução da admiração, algo como um orgasmo que vira arrepio de frio, e depois de verificada a inoperacionalidade carnal do processo Samuel virou-se para o sexto e último critério, um curioso: 'bons negócios comuns'. Tratava-se de colocar a finança num patamar adjacente à moral, e fazer dela uma espécie de átomo de carbono do erotismo organizado. Inesperadamente, ou talvez desesperadamente, Samuel avançou para esta derradeira experiência com um afã de sucesso que não tinha experimentado nas anteriores. Depois de terem explorado juntos um negócio de decoração de águas furtadas não conseguiram resistir a um contentor de edredons de algodão chineses que se revelou ser de fronhas de poliester paquistanesas. Romperam definitivamente junto dum quartel da guarda fiscal 3 anos depois do dia da escritura de constituição. Samuel já nem procurava explicações e encontrava-se agora numa fase de balanço: fornicara, provocara inveja passeando ao lado de uma mulher que fazia parar o trânsito, passara serões a ver tricotar e a dar opiniões sobre cortinados, trocara ideias de forma exuberante com uma interlocutora brilhante, avalizara livranças solidariamente, enfim, experimentara um pouco de tudo o que havia para experimentar junto de uma mulher e quase que estava convencido que exagerara no seu racionalismo e que devia ter seguido o modelo do comum dos mortais em escolher um pouco ao acaso e atrás das circunstâncias, mais ou menos transvestidas de oportunidades. Mas, constatava, no fundo agora perdera a hipótese de viver com a maior das nostalgias, aquela nostalgia que já ascendeu ao pódio dos grandes sentimentos que alimentam as almas: não possuia aquela coisa da 'mulher perdida', aquela mulher com a qual, fruto das vicissitudes da vida, não tinha juntado os trapinhos. Pegou no caderninho dos critérios e escreveu: «o sucesso alcança-se com a existência duma ilusão possivel-impossivel. O terceiro excluído. A reserva intocada. A frustração é a madrinha de guerra da acção». Entretanto, o pai de Samuel enviuvara e descobrira o caderninho do filho. Apesar de conhecedor de todas as peripécias pensou que ainda tinha tempo para experimentar. Se calhar o problema não seria do critério mas antes do criterioso.

verso à terça

Deito-me neste divã e o que vejo são nuvens.
Nem sempre brancas aliás,
amarelas, castanhas,
rosadas, por sorte,
como agora em Setembro, duas ou três escarlates,

principio a contar as nuvens amarelas
e as nuvens castanhas

se as amarelas forem em maior número que as castanhas
não reprovo este ano

duas amarelas e uma castanha.

António Lobo Antunes (semi-aldrabado) , in Não entres tão depressa nessa noite escura

slot machine

Mas para não pensarem que o post anterior não se baseava em fundamentos teóricos de alto gabarito, aqui têm:

«cidades de betão, uma democracia burocrática, uma falta de dinamismo, um pessimismo miserável e ironias insípidas. Pode acontecer que tenhamos de aguentar ainda mais tempo este «espírito». É uma mentalidade que nem sequer é já decadente, que não se pode ser decadente porque não a precedeu nenhuma elevação de onde tivesse caído.»

já há dezanove anos, do slot, Sloterdijk para os amigos, aquela máquina.

Querido mudei a Caixa

Face à conjuntura económico-politico-financeiro-orçamental-social-mediático-gnoseológica irei propor ao ainda canal público um programa de teor educo-recreativo, do qual darei já conta aos estimados leitores, destinado a redecorar e refrescar os elencos das administrações, conselhos consultivos, estratégicos, fiscalização, coordenação, supervisão e demais nobres funções da Banca, de molde a que tal processo não só se torne mais transparente e colorido como também permita o aparecimento de novos valores que enriqueçam o panorama artístico-boy-bancário nacional. O figurino deste programa passará por fechar em regime de internato numa agência em Pernes seis vulgo boys que demonstrem não estar reféns de qualquer grupo ou facção com interesses no sector (julgo que talvez se consigam 6). Terão cinco tarefas obrigatórias: a) convencer três reformados a depositarem a sua pensão num produto denominado 'rendeiro plus'; b) fazer uma montra da agência sem utilizar a expressão 'garantido' e com a merkel a oferecer um serviço vista alegre ; c) criar um produto de crédito ao consumo denominado 'gasparine' e convidar um funcionário público a subscrevê-lo para comprar um capachinho ao Rasmus Ruffer; d) vender unidades de participação de um fundo imobiliário detentor apenas dos buracos de golf disseminados pelos diversos campos do país; e) decorar a zona de atendimento ao público utilizando o cruzamento da imagética maçon com a lingerie intimissi. No final de cada episódio é escolhido pelos espectadores o boy menos capaz da semana que terá assim de sair da agência e limitar-se a ser vogal numa empresa de transportes suburbanos ou distribuição de águas. And so on. Na emissão final estarão apenas 2 boys na agência e será convocado um conselho de ministros extraordinário com a missão espinhosa de escolher o boy preferido face ao desempenho acumulado. Ao segundo classificado será oferecido um curso de calceteiro visando a sua futura incorporação em orgãos do poder local. A apresentação ficará a cargo de sofia desaparício, e a animação do público residente patrocinada pela 'Associação de Apoio aos Manifestantes Paquistaneses - vivasócrates'. Julgo vir a tratar-se dum programa de sucesso e vasto alcance que não só dignificará o mundo dos reality boys como permitirá a franjas da população geralmente afastadas dos meandros do poder virem a participar activamente na escolha daqueles que nos representam nos lugares de executiva, nas reservas do eleven e nos stands da bêémedabliu.

Marinho em formato jimbras

Não sei se já vos tinha dito que escreveria por fim-de-semana - e nem sequer precisava de ser de ponte - um livro tipo-mario-de-carvalho, não fora gostar mais de pastéis de bacalhau com arroz de grelos do que de escrever livros. E isto não é porque eu seja alguma bisca a escrever livros, não, isto deve-se a ter no meu pódio de irritações técnicas esse preciso gajo, enquanto gajo que escreve livros, - se fosse barbeiro por exemplo não me faria tanta aflição - de sua graça: mário de carvalho. Isto é um capricho inútil e estúpido, daqueles que há que acarinhar quando possuímos o monótono equilíbrio e a insonsa sanidade, próprias dos seres banais, e que nos permite ascender adjacentemente ao maravilhoso mundo dos paranóicos. Contudo, depois de ter pegado e aberto o seu último folhado de letras, o primeiro parágrafo - que é donde vou neste momento - entrou pela minha córnea desta forma: «a bejeca deixou fímbria de branco poroso a ferver no lábio de abreu. O ar de desdém, basófio e curto, derivava agora, nasalado, pela fresta da comissura»; ora tomando por bom que não fui traído por nenhum glaucoma repentino sou levado a concluir que a fusão pirosa de camilo com mario zambujal podia ser aproveitada para decorar pacotes de shortcake mas podia evitar-se o abate de árvores. Até este post era evitável mas se até o diabo reza podemos sempre seguir para bingo; não tarda é Natal.

Nota: este post custou 16,20 € menos 10% de cartão aderente

República de Ver mar

Não somos uma nação de gloriosos decadentes. A nossa força não vem do desespero, nem duma euforia da miséria ou catarse de declínio. O horizonte atlântico presta-nos um serviço à alma. Acarinhamos valores para literaturas de segunda, mas honestas, mimosas, fundámos o idealismo das delícias. Fazemos coisas queridas, temos sentimentos bonitos, decoramos as ansiedades com as saudades e as melancolias, polvilhamos com um ou outro acinte mas nada que ensurdeça o ouvinte, e vestimos o orgulho de pantomina ou de solidão. Todos temos uma guterronhice dentro de nós e a nossa tristeza será sempre alegre, sempre destriste. Não trabalhamos com motores de explosão, se precisamos de energia fazemos das tripas coração e depois amamos com unhas e dentes. Não temos hábitos, não temos costumes, a visão do mar infinito dá-nos esse mínimo de estabilidade que precisamos, chegam-nos e sobejam-nos as marés para marcar o tempo. Não contem connosco para modernidades, racionalizações, cosmopolitanismos, a nossa maior rebeldia é sabermos todos os códigos da piscadela d'olho, o nosso maior segredo é o pregão duma varina. Dêem-nos dois foda-se's e levantaremos o mundo. Não somos conformistas, nem reformistas, nem revisionistas, nem sequer alarmistas, apenas gostamos de estar sossegados e ao mesmo tempo dar nas vistas. Estar à beira mar é destino, condição, parolice, sonho, mania, refúgio, ilusão, realidade. A nossa vanguarda é uma esplanada.

ai.

Doem-me as costas. Eu sei que há assuntos muito mais importantes, desde a entrada dos três gorjas na edêpê até àquela coisa mais ou menos genérica de estarmos todos mais ou menos fodidos, mas reparem, agora, essencialmente, doem-me, e não é mais ou menos, as costas. As televisões não ajudam nada, já revi os episódios todos do killing, já revi os houses da nova série, já revi os borgias, já revi aquela coisa do national geografique com o hitler a cores, já perdi duas corridas de gt4 com o meu filho mais novo, já ouvi inclusivamente o marques mendes, já comi duas asas de frango com cominhos, mas a porra da dor não me passa, vou pensar que são as tais dores reflexas, a reflectirem todas as desgraças do mundo, é um bocado místico, mas vocês percebem-me, certo? Isto dá todo o aspecto de ser uma demonstração velada de egoísmo, daquele egoismo estéril, mas é difícil dar-vos uma opinião porque estaria a julgar em causa própria, e ainda para mais é aquela dor que fica entre a ciática e os bicos de papagaio, vinda de sítio nenhum, a cabrona, eu sei que parece contraditório, mas todo o nosso corpo está cheio de contrariedades, é como a realidade em geral, reparem, já repararam certamente, acho que até a manuela ferreira leite, que me passou agora aqui pelo ecran, já reparou, eu agora até contratava uma maçaneta (uma espécie de feminino de maçon mas com mamas pip) para me dar umas massagens nas costas mas já me custa agarrar no telefone, eu sei que o momento é difícil, os capitais estão a fugir para a holanda, os cérebros para a alemanha, os braços para os emirados, e até já se fala em vesículas a ir para o zimbabué, mas a mim agora doem-me as costas o que é que querem que vos diga mais.

verso à terça (*)

L’amour est un bouquet de violettes
L’amour est plus doux que ces fleurettes
Quand le bonheur en passant vous fait signe et s’arrête
Il faut lui prendre la main
Sans
attendre à demain,
L’amour est un bouquet de violettes
Ce soir, cueillons, cueillons ses fleurettes
Car au fond de mon âme
Il n’est qu’une femme
C’est toi qui seras toujours
Mon seul amour

Refrão duma Canção de Luis Mariano, ilustrada com um pormenor duma aguarela de E. Batarda (exposta neste momento em Serralves)

(*) hoje despachadinho já logo pela 2ª

Os Ricos II

Convite para uma beatificação

Pega-se num rico devidamente catalogado, verifica-se o prazo de validade (há muito rico que pensa que é rico mas que já não é rico) e põe-se a marinar num stress test de carmelitas descalças durante uma semana. Depois de devidamente convencido que tudo se deveu um inapropriado aproveitamento do mecanismo de luta de classes coadjuvado por uma lua cheia que se focou inadvertidamente no seu rabo, inicia-se o processo de culpabilização. A passagem do estado de bafejado para o estado de culpado é crítica e não deve ser exagerada pois há risco de estorricar (já se verificaram casos em que o rico passou de grande paio a grande bosta sem passar por ser apenas grande besta). Uma boa culpa é absolutamente essencial e precisa de: emagrecimento, flacidez facial e rigidez de articulações; o enbranquecimento de cabelo é opcional pois pode confundir-se com a mera preocupação. A entrada na fase do arrependimento deve vir acompanhada de algum estigma público, em muitas situações basta uma caganita de pássaro na moleirinha, no caso de não estar disponível a clássica mijadela de cão nas calças. O arrependimento dá-se por terminado quando o rico ulceriza o seu património em duas ou três oenegês off-shores incensadas regularmente por dominicanos encartados. Quando o património já assume a forma de custódia benzida chega o momento da martirização. Um bom mártir precisa de começar por saltear primeiro com um rechonchudo molho de bróculos em lume brando e finda esta fase, já com a cor rosadinha, vai ao forno e serve-se numa fundação em porcelana ming, com os restos a virem repousar em relicário de madeira de teca, tão leve como uma taxa liberatória.

Os Ricos

Regra geral não gosto da chamada riqueza honesta. Tenho mesmo uma certa aversão àqueles que enriqueceram apenas à custa do seu trabalho e uma forte alergia aos que criaram riqueza exposta subindo a pulso, a tornozelo ou apoiando-se em qualquer outra articulação ou cartilagem em esforço. Tenho apreço, sim, por especuladores, expedientistas, herdeiros indolentes, reis da negociata, gente que sabe que é rica por uma mistura de sorte & arte. Falo de riqueza não falo de abono. Não há aqui uma caracterização moralizante ou iconoclasta, nem pretendo ser uma espécie de enólogo do graveto, isto é apenas um posição no âmbito da ecologia da riqueza. Quase por definição, enquanto os representantes do primeiro tipo se consideram donos duma qualquer benção de legitimidade os outros acham-se bafejados por uma graça louca e oculta, enquanto uns estão embebidos dum clássico eusoumismo os outros vivem num semi-exuberante quessefodismo. Um histórico problema das sociedades é : o que fazer com os nossos ricos ( a questão dos pobres está há séculos resolvida: escondem-se ou cristianizam-se). Julgo por isso ser importante classificá-los como deve de ser , longe das causalidades de sacristia, se por um lado devemos desprezar aqueles que alcançaram a riqueza por vias laboriosas, que constante e obscenamente a exibem como lastro de virtude, devemos saber exaltar aqueles que a exibem como mero sub-produto do pecado e apenas esperam que, quando estiveram a passar pelo buraco da agulha, o metal não lhes arranhe muito o lombinho.

verso à terça


Na profundidade da limpeza bate o coração das cores.

Neoblanc Gentil, in Cores VivasTodos os Dias

made in woven #14

Diz-me com que nódoa andas dir-te-ei que pano és.